Foi realizada, no dia 22 de outubro, a live “A imprensa brasileira de costas para a América Latina”, organizada e transmitida pelo Sindicado dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ).
O evento foi conduzido pela jornalista, coordenadora-geral da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e representante do SJPMRJ, Beth Costa, e teve como convidado o ex-presidente da Fenaj e ex vice-presidente da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), o jornalista e professor da PUC-RS Celso Schröder. Num bate papo, que foi também uma aula de história, geopolítica e jornalismo, ambos abordaram, principalmente, a cobertura deficitária da mídia televisiva nas questões da América Latina.
Das eleições na Bolívia, ocorridas no dia 18 de outubro desse ano, até a cobertura eleitoral para prefeitos dos 5.570 municípios brasileiros, foi destacado o componente ideológico presente no olhar da mídia que se volta sistematicamente para os Estados Unidos e para a Europa. Além disso, foi oportunamente lembrado o preconceito e a propagação de estereótipos que ocorrem quando há, de fato, cobertura sobre os acontecimentos dos países latino-americanos. Para Beth, o Brasil privilegiou não retratar os seus vizinhos.
Nesse contexto, destacou-se a questão relativa ao tempo de cobertura dedicado pelas mídias brasileiras às eleições bolivianas em comparação ao dispensado ao processo eleitoral nos EUA. Enquanto no primeiro caso os principais jornais televisivos limitaram-se a inserir as notícias de forma superficial, no segundo foram dedicadas 1h e 30 minutos apenas na TV aberta para o pleito eleitoral americano. E, mesmo considerando-se o fato que as mídias impressa e digital deram espaço ao pleito boliviano, ainda foi pequeno em comparação ao dispensado à cobertura das eleições americanas.
A cobertura ideológica realizada pela mídia brasileira tem, segundo Celso, dois objetivos: reafirmar os grupos ideológicos fora do País e, ao fazer isso, reafirmar, também, os grupos ideológicos no próprio Brasil. Celso Schröder pontuou, ainda, a cobertura do maior veículo de comunicação do Brasil, a Globo. De acordo com ele, foram omitidas informações relevantes a respeito do processo eleitoral democrático brasileiro.
O advento da tecnologia aparece, nesse sentido, como uma forma de ampliar essa possibilidade de cobertura, além de apontar as falácias das mídias. Apesar disso, foi destacada a falta de articulação, nacional e internacional, para melhorar esse desempenho.